sexta-feira, 18 de outubro de 2013

RECORDANDO: O CÉU ESTRELADO DA MINHA INFÂNCIA…


SONHAR CRIANÇA

É apenas mais uma noite quente de um sábado de Verão. Estou na varanda, a ouvir música no meu Ipod (a modernidade tem destas coisas maravilhosas) e balanço o corpo com o ritmo da melodia. Adoro perceber a letra e vibro com cada som como se fosse eu o instrumento musical que lhe dá aquele toque magistral.
De repente, fixo o meu olhar no imenso céu e deixo-me ficar quieta a observá-lo, quase como se estivesse a cortejá-lo. Porém, reparo que ao seu lado está, muito atenta, a sua eterna companheira - a majestosa lua, tal qual bela rainha no seu reino intocável.
Sinto uma brisa agradável e indescritível que me toca suave e delicadamente no rosto e se espalha lentamente pelo meu corpo, apoderando-se dos meus movimentos e das minhas emoções.
No ar dança o perfume esquecido da pureza e da inocência…
Inunda e perturba a minha alma, uma súbita nostalgia da minha infância…
A minha memória recua até ao tempo em que tudo se resumia a uma sede insaciável de novidade, divertimento e uma singela felicidade!
O meu coração é invadido por uma imensa saudade daqueles longos serões de Verão passados na varanda dos meus avós, nos quais a companhia destes, das minhas tias, juntamente com a das minhas companheiras de todas aquelas longas noites – as estrelas, tornava tudo simplesmente, perfeito!
Lembro-me clara e demoradamente desses momentos deliciosos em que me sentava no chão quente da varanda, descalça, com os olhos deitados no céu, ouvindo os grilos, quais afinados cantores…
Lembro-me saudosa e docemente do palpitar frenético do meu coração e da curiosidade espelhada no meu olhar com aquele gozo inocente de contar as estrelas infinitas…
As crianças são de fato seres especiais porque acreditam na magia do impossível!
Estou numa espécie de hipnose e revejo aquele céu da aldeia em que as estrelas eram tantas que iluminavam o meu brincar cheio de encantamento, mistério e doçura.
Sim! Era tal o brilho naquele céu que eu tinha dificuldade em dar um nome a todas as minhas amigas celestiais. Afinal eram as minhas companheiras cintilantes e como fieis amigas que eram, eu tinha de lhe dar um belo nome e, no mínimo, bastante adequado as características de cada uma! Claro, porque o seu nome era sinónimo do seu significado na minha curta existência de menina.
O meu critério passava por escolher primeiro o nome dos meus familiares, depois dos meus amigos, a seguir dos colegas da turma, e quando se “terminava com as relações”, inventava, pura e simplesmente.
Finalmente subi as escadas da infância e percebi que hoje, neste Sábado quente de Verão aparentemente tão normal me esqueci de todos aqueles nomes. Esses mesmos nomes que, na minha imaginação infantil fecunda de sonho e primavera me permitiam carinhosamente falar com as minhas amigas estreladas.
Todos, a exceção de um que eu adorava: a estrela amiga POESIA! Era aquela a minha melhor amiga, a minha confidente, a minha preciosa companheira. Estava lá todas as noites para conversar comigo…Para me fazer voar com as suas palavras!
Refleti sobre os motivos deste esquecimento e não cheguei a nenhuma conclusão brilhante, apenas a um talvez. Não sei, agora, talvez, lhe chame crescimento, desencantamento. Porque crescer traz consigo um inimigo cruel – o frio e o vazio do triste esquecimento!
Porém, este sábado quente de Verão foi tudo menos um mero sábado…
Sim! Este sábado foi o dia em que reaprendi a contar as estrelas sem fim que povoam o quadro de uma infância transbordante, mágica e feliz!
Sim! Este sábado foi o dia em que voltei a ouvir o canto do rouxinol!
Sim! Este sábado foi o dia em que fiz as pazes com as minhas amigas e companheiras estreladas!
Sim! Este sábado foi o dia em que em vez de um até sempre, as brindei com o mesmo sorriso encantado, o coração renovado e com um até amanhã…
Sim, este foi o sábado, do céu estrelado da minha infância…!

Marta Limbado

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